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SP TELEVISÃO: GLÓRIA marca uma nova etapa na ficção portuguesa

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SP TELEVISÃO: GLÓRIA marca uma nova etapa na ficção portuguesa

Pedro Lopes, Diretor-Geral de Conteúdos da SP Televisão, não se deslumbra com o sucesso, mas reconhece que a série Glória, de que é autor, exibida na Netflix e disponibilizada para mais de 190 países, abriu uma janela enorme à ficção portuguesa e, obviamente, transformou-se num excelente cartão-de-visita da SP Televisão.

A série, embora o balanço, do ponto de vista de audiências, seja confidencial, imposto pela Netflix, teve um grande impacto internacional, que se pode avaliar pelo número de artigos publicados na imprensa internacional.

Os EUA, por exemplo, foi o país onde saíram mais notícias, mas depois há jornais, como o britânico The Guardian, que se refere à série como uma das estreias mais interessantes da época (mês de novembro de 2021) e muitos outros artigos, alguns de intelectuais, italianos, brasileiros, por exemplo.

“A série foi tratada como um objeto especial pela imprensa internacional, dentro do catálogo gigantesco da Netflix, o que nos deixou muito satisfeitos. Conseguimos juntar aqui o melhor que o cinema e a televisão têm, com uma narrativa focada e uma história em andamento e, ao mesmo tempo, um tempo diferente, uma reflexão e uma sensibilidade, muito própria das produções europeias. Terá sido essa mistura o segredo do sucesso”, afirmou Pedro Lopes.

“A história estava na cabeça desde muito jovem, porque a família do lado materno trabalhou na antiga Emissora Nacional, e a RARET, um centro retransmissor de uma rádio norte americana, construído em Glória do Ribatejo, era assunto, de vez em quando”, acrescentou.

O seu avô trabalhou diretamente com o engenheiro Bívar, que foi o responsável pela pesquisa de terrenos para construção da RARET, que se concretizou em 1951, retransmitindo para a então denominada Cortina de Ferro, as emissões da Radio Free Europe. À medida que crescia, foi-se apercebendo de que o assunto era desconhecido da maior parte das pessoas, embora lhe fosse familiar desde cedo.

Pedro Lopes prosseguiu: “Achei que era uma história interessante. Uma região perdida no meio do Ribatejo onde está instalado um centro retransmissor que tem um papel importante na Guerra Fria, e achei também que havia uma ligação à atualidade, quando discutimos hoje, por exemplo, as fake news ou o envolvimento russo nas eleições norte-americanas. Percebemos que o mundo não mudou assim tanto.”

O interesse pela história narrada na série envolveu os próprios responsáveis norte-americanos da Rádio Free Europe, que contactaram Pedro Lopes, e defenderam que não se tratava de uma rádio de propaganda, mas sim uma rádio que leva notícias a regiões do Mundo onde a informação não é isenta.

Já a trama amorosa e de espionagem da série foi completamente inventada. Os mesmos responsáveis também quiseram saber se o autor tinha descoberto nas suas investigações indícios de espionagem ou terrorismo. “Respondi-lhes obviamente que não, que era completamente ficcional. No entanto, aconteceu na Alemanha, onde as emissões eram gravadas, a existência de espiões”, disse Pedro Lopes.

“O que quis fazer foi, não através totalmente da verdade histórica, mas de uma verdade metafórica, através de personagens ficcionais, caraterizar o País, as relações de poder, as relações de género e todo o ambiente político da época. Escrevi depois o livro a partir do guião da série, indo para além da história contada na série, criando uma outra linguagem, mais literária, conseguindo estar mais dentro da cabeça da personagem, fugindo à reprodução simples dos guiões, mas criando uma outra linguagem”, concluiu.

Luís Marinho voltar